Gigantes

Com fala em prosódia de quem dialoga com a maior das certezas e tranquilidade, voz firme, a menina explica à mãe que "os gigantes são enormes":
- Sim, os olhos são do tamanho de árvores! - afirma convicta; e faz uma pausa no discurso, qual provoca apropriada a um momento de reflexão.
- E os pés do tamanho de carros! - continua, definindo as proporções.
E o incrível mundo de gigantes, criado e alimentado pela menina tão miúda, e que dentro dele não se perde, continua sem que eu possa acompanhar. Meus ouvidos já não alcançam sua voz. Ou não alcanço e não compreendo suas proporções?
Junto à mãe, ela segue articulando o (macro)território. No entanto, sem que eu possa escutar sequer uma vez a voz daquela. À mãe deve ser restrito o acesso aos domínios da pequena, não consegue ser gigante: se perde, não acompanha os passos e aquele mundo é demasiadamente grande para seus pés de tamanho convencional.

Guardiã
(01.03.2011)

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